Lic de Biologia no ISA

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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A Comunicação entre os Animais

Numa época em que somos quotidianamente surpreendidos por inovações na área das comunicações, vale a pena olhar com atenção para as formas de comunicação dos outros animais, tecnologicamente mais simples, mas nem sempre menos eficazes.

Alexandre Vaz

A comunicação pressupõe a existência de dois ou mais indivíduos, e acontece sempre que há troca de informação entre eles. A grande supremacia tecnológica do homem face aos outros seres vivos foi conquistada, em grande parte, através da sofisticação da sua comunicação. Com o advento da escrita, a comunicação prolonga-se muito para além do momento em que é proferida e a partir daí a acumulação e o desenvolvimento do conhecimento são feitos com uma eficácia sem precedentes.

Não obstante não existir nenhum outro animal com uma comunicação tão complexa quanto a nossa, há animais que possuem métodos de comunicação sofisticados e que perduram no tempo. Não será muito arriscado dizer que, das cerca de um milhão de espécies de animais descritas, quase todas, numa ou noutra fase da sua vida, necessitam de comunicar.
Existem alguns processos de comunicação tão óbvios que por vezes nos esquecemos deles mas, tal como nós, também muitos animais os utilizam. A simples aparência de um animal desempenha um importante papel na escolha de parceiro para acasalar ou no estabelecimento de hierarquias, em insectos, aves, mamíferos, moluscos e muitos outros animais. Apesar deste ser um assunto bastante estudado, ainda hoje permanecem por explicar alguns dos processos que levam à selecção de um parceiro.

Em muitos animais são os machos que competem para conseguirem uma fêmea para acasalar. Do seu poder de persuasão vai depender a capacidade de dissuadir outros machos de lhe fazerem frente e de seduzir a fêmea pretendida. Neste caminho vai haver, necessariamente, muita comunicação. A aparência de uma animal, como o brilho das suas penas, a cor do seu pêlo ou a dimensão das suas hastes, provavelmente não vai ter uma implicação directa na sua eficácia como progenitor, mas o seu aspecto físico é um reflexo da sua condição fisiológica. Os outros machos evitarão combater um aparentemente mais forte, poupando energias a ambos, e as fêmeas, sejam elas de uma pequena ave, de um veado ou de um primata, estão interessadas em acasalar com o macho mais apto que lhes for possível encontrar. Por isso, mesmo em muitas espécies em que os machos não lutam entre si, demonstrando a sua força, exibem perante a fêmeas a sua perícia a construir ninhos, a conseguir alimentos ou noutra actividade fundamental no decurso da reprodução. No fundo, o que eles de uma ou de outra forma estão a dizer é: “eu serei um bom pai para os teus filhos”.
Para além de depender de factores como a idade ou a condição física, a aparência dos animais varia muitas vezes com a sua vontade. Algumas das adaptações neste campo são surpreendentes; veja-se a cauda de um pavão aberta em leque, o papo de uma fragata, a tromba insuflável de uma foca de capuz, ou a velocidade com que uma lula pode fazer variar a cor da sua pele. A própria máscara facial, assim como a postura, desempenham nalguns animais um papel muito importante. Os lobos, por exemplo, que vivem em sociedades hierarquizadas e complexas, exprimem desta forma ritualizada a sua atitude dominadora ou submissa.

A linguagem gestual não está de forma alguma reservada aos animais superiores. As abelhas, no interior das suas colmeias, executam movimentos complexos, que lhes permitem comunicar pormenorizadamente, por exemplo, a localização de determinada zona onde existe alimento.

A linguagem sonora, que usamos a toda a hora quando falamos, é igualmente utilizada por muito animais. Também aqui a complexidade das mensagens vai variar entre espécies, mas a eficácia da comunicação sonora deve-se, em grande parte, ao facto de permitir a transmissão de uma mensagem a uma longa distância. Algumas baleias fazem-se ouvir a 80 km de distância; muitas aves podem ser ouvidas pelas suas congéneres a vários quilómetros e mesmo alguns insectos, como os grilos e as cigarras, fazem-se ouvir a muitas centenas de metros.
A diversidade de mecanismos utilizados para produzir sons é imensa, desde insectos que fazem vibrar as asas friccionando-as uma na outra, passando pelas cordas vocais de muitos mamíferos, até ao complexo canto das aves ou à percussão de infinitos materiais. Se existem alguns animais com uma comunicação sonora muito simples, que praticamente se limita a assinalar a sua presença, há outros com um vocabulário extensíssimo. Hoje sabemos que os golfinhos possuem uma linguagem extremamente complexa, que lhes permite, por exemplo, chamar um indivíduo em particular. Também alguns primatas e aves têm gritos de alarme que remetem para uma ameaça específica. Para além disso, o canto de muitas aves tem, por exemplo, um “sotaque” da região de onde provêm, e os progenitores sabem reconhecer mutuamente o chamamento dos seus parceiros e o das suas crias.

Uma outra forma de comunicação, a que somos por ventura menos sensíveis, mas que para muitos animais é extremamente importante, é a comunicação química ou por odores. Esta forma de comunicação pode não permitir a troca de uma mensagem a uma distância tão grande quanto as mensagens sonoras, mas tem a vantagem acrescida de permitir que a mensagem se mantenha por um longo período de tempo. Alguns mamíferos possuem territórios tão extensos que seria impossível defenderem as suas fronteiras vocalizando a partir de centro. Neste caso, eles marcam o território recorrendo a substâncias de odor intenso, que podem permanecer durante semanas. Por outro lado, da mesma maneira que muitas aves podem distinguir os membros da sua família ou grupo pelas características do canto, alguns mamíferos, como os texugos, fazem-no através do odor.
Para além de utilizarem o odor das suas fezes e urina para marcar o território, ou para criar um odor corporal característico e diagnóstico de cada indivíduo, muitos animais, incluindo diversas espécies de antílopes, estão dotados de glândulas produtoras de substâncias de odor intenso. Sabe-se que é através do odor que muitos animais reconhecem quando é que o parceiro está receptivo para acasalar e pensa-se que alguns antílopes libertem determinados odores em situações de perigo, lançando um subtil alerta que provavelmente só será entendido pelos seus pares. Alguns antílopes têm também glândulas nas patas, que deixam no terreno o rasto da passagem de cada indivíduo.

Mais uma vez, não são só os animais superiores que recorrem a estas estratégias. As formigas, em caso de ataque ao formigueiro, lançam feromonas como quem soa um alarme, ao qual as demais acorrem imediatamente em socorro.

Curiosamente, apesar de não ostentar os seus odores corporais, como ainda os dissimular, o Homem recorre a substâncias produzidas por outros animais para criar perfumes.

Embora a maior parte das manifestações de comunicação animal ocorram entre indivíduos da mesma espécie, elas também se podem dar entre espécies muito diferentes. Nestes casos, aquilo que acontece frequentemente é que uma espécie em aparente desvantagem tenta enganar outra que a ameaça. Exemplos deste caso acontecem com determinadas espécies de aves, que simulam estar feridas para distrair uma potencial ameaça das suas crias ou ovos. Também algumas aves imitam o canto de um predador para afastar intrusos ou eriçam as penas para parecerem maiores do que na realidade são.
Se prestarmos atenção ao mundo que nos rodeia, ao canto das aves, ao coaxar das rãs, ao odor dos mamíferos e ao zumbir dos insectos, mesmo que não saibamos o significado das mensagens, poder-nos-emos aperceber da quantidade de mensagens e da dimensão da comunicação que permanentemente ocorre no mundo natural. Afinal, aquilo que promove a comunicação entre os animais silvestres não é assim tão diferente do que nos motiva a faze-lo com os nossos pares. Como diz o ditado: “a falar é que a gente se entende…”

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