Lic de Biologia no ISA

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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O declínio das populações de Coelho-bravo

O coelho-bravo é uma espécie-chave nos ecossistemas Ibéricos. Embora possua uma elevada capacidade de adaptação a diferentes meios, uma parte importante das suas populações tem sofrido um decréscimo progressivo de densidade.

Sara Otero

Existem vários factores responsáveis pelo decréscimo progressivo da densidade das populações de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) nos ecossistemas ibéricos: caça intensa, muitas vezes sem gestão cinegética, deterioração do habitat, elevadas densidades de predadores generalistas, competição com herbívoros de grande porte, além da espécie estar sujeita a epizootias de origem vírica, nomeadamente, a Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral, constituindo ambas factores significativos de mortalidade.

O declínio das populações de coelho-bravo tem sérias implicações para várias espécies. O coelho entra na dieta de uma ampla gama de predadores, sendo a principal fonte de alimento de diversas espécies em perigo de extinção, tais como a águia imperial (Aquila adalberti) e o lince ibérico (Lynx pardinus). O lince ibérico foi considerado recentemente o felino selvagem em maior perigo de extinção no Mundo, sendo o coelho-bravo a sua principal presa; por exemplo, na Serra da Malcata, em termos de biomassa consumida, aproximadamente 80% da dieta do lince ibérico é constituída por coelho.
Em França, a acentuada redução das populações de coelhos causada pela Mixomatose teve, como consequência indirecta, um aumento de pressão da caça noutras espécies, como a lebre e o faisão, que não tendo a plasticidade ecológica do coelho, viram diminuir as suas populações.

Infelizmente, o coelho-bravo também se pode transformar numa praga, causando prejuízos para as culturas agrícolas e competindo com outras espécies. Dada a sua enorme capacidade de crescimento populacional, o comportamento gregário e o regime alimentar do coelho-bravo, as suas populações têm impacto sobre todos os meios, podendo modificar a estrutura das comunidades vegetais e causando desgastes significativos em meios cultivados ou não. Em meios não cultivados, assiste-se a um empobrecimento da flora devido à eliminação de gramíneas e leguminosas e a perturbações na regeneração natural das espécies florestais. Em Portugal, os danos sobre as culturas agrícolas podem conduzir a perturbações no crescimento dos cereais de Inverno.

Ainda existe pouca informação publicada relativamente à evolução demográfica das populações de coelho-bravo nos seus países de origem. É importante realçar que para uma avaliação dos factores que têm levado ao declínio das populações, nomeadamente a Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral, é fundamental que se façam estudos relativos ao impacto destas doenças nos parâmetros populacionais, em particular na abundância populacional.

As técnicas tradicionalmente utilizadas em Espanha para restabelecer as populações de coelhos têm sido o controle de predadores, especialmente raposas (Vulpes vulpes) e o repovoamento com coelhos vacinados e capturados em áreas onde os coelhos ainda são abundantes. Além destas técnicas, em algumas áreas são criadas tocas artificias de modo a reduzir efeitos derivados da inundação e prevenir a predação por carnívoros, é feito controle de competidores, e gestão de habitat. No entanto, demonstrou-se que a melhoria do habitat pode, por si só, conduzir a aumentos populacionais significativos, podendo aumentar até oito vezes a densidade inicial de coelhos nalgumas situações. Por outro lado, os meios de luta contra a Mixomatose são ainda pouco eficazes na natureza, porque a vacinação necessita da prévia captura dos animais. A melhoria das condições de vida, nomeadamente, abrigo e alimento, são importantes para o combate a esta doença.

Assim, dado que a espécie terá maior probabilidade de existir em zonas de orla, onde matos, culturas e pastagens se encontram sobrepostos, as medidas de gestão do meio passam pela disponibilização de áreas de abrigo nas zonas mais expostas e alimentação nas zonas de mato, devendo manter-se a estrutura e a vegetação natural dos ecossistemas mediterrânicos, diminuir as perturbações nas áreas de mato e orlas, abrir pequenas clareiras semeadas de forma a fornecer alimento junto dos locais de abrigo e, ao nível das áreas de cultura, proporcionar abrigo sob a forma, por exemplo, de manchas de vegetação arbustiva e pequenos aglomerados de pedras ou troncos. Por outro lado, deve ser prevista protecção artificial em áreas abertas sem vegetação arbustiva ou matos através da construção de tocas ou a facilitação da sua construção pelos próprios coelhos.
Alguns estudos referem que o coelho desvia grande parte da pressão exercida por predadores que, de outro modo, recairia fortemente sobre as outras espécies de caça menor, especialmente a perdiz vermelha, a lebre e a codorniz. Assim, a recuperação das populações de coelhos em conjunto com a prática de adequadas medidas de gestão, permite fomentar as outras espécies de caça menor.

Uma vez que o coelho-bravo constitui um recurso alimentar básico de várias espécies de predadores, diversas delas ameaçadas, é urgente conhecer os factores que determinam os seus padrões de ocorrência e abundância, bem como as suas preferências alimentares nos ecossistemas mediterrânicos, de modo a ser possível a implementação de medidas de gestão eficazes que visem fomentar as suas populações.

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