Lic de Biologia no ISA

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A utilização de culturas para a fauna na gestão de vertebrados terrestres

A gestão do habitat de espécies animais de elevada importância de conservação e económica, é um instrumento fundamental de ordenamento. Nesta apresentação das culturas para a fauna, encontrará um conjunto de medidas e sugestões práticas importantes.

Luís Miguel Reino

Uma gestão activa da fauna é frequentemente necessária para o fomento e conservação de muitas populações animais. A utilização de culturas para a fauna, que visem precisamente o incremento de espécies-alvo através de melhoria do habitat, tem sido uma prática frequentemente utilizada em muitos países. Todavia, os efeitos reais destas medidas de gestão na demografia e ecologia das populações são muitas vezes pouco conhecidos, ainda que seja normalmente aceite que a utilização deste tipo de medidas é largamente benéfica para a fauna em geral e para a actividade cinegética em particular, a qual é normalmente quem proporciona o incentivo económico para a implementação deste tipo de acções de ordenamento.
A instalação de culturas para a fauna pretende ser uma medida de gestão e de manipulação do habitat com vista à melhoria das seguintes características:

i) harmonização dos diferentes usos do solo com os requisitos ecológicos das espécies que se pretende gerir;

ii) aumento da qualidade e quantidade dos recursos de abrigo e alimento;

iii) melhoria do habitat de reprodução, com o objectivo de aumentar a densidade de casais reprodutores, a natalidade e o êxito reprodutor.

Por exemplo, ao nível da disponibilidade alimentar as culturas para a fauna actuam normalmente de duas maneiras distintas:

- Fornecendo directamente alimento através das partes verdes, grãos, frutos, raízes e sementes nas épocas mais críticas do ano que, no caso dos ecossistemas mediterrânicos, são sobretudo a Primavera e o Verão.

- Proporcionando indirectamente alimento através dos invertebrados (sobretudo para a alimentação dos juvenis) e plantas infestantes associadas às culturas.
Regras básicas para instalação das parcelas

A superfície a ocupar pelas culturas para a fauna é variável. Por exemplo, para a perdiz-vermelha Alectoris rufa, a área a ocupar pelas culturas para a fauna pode ir até aos 20% da área total gerida. Deverá proporcionar recursos adicionais às espécies que se pretendem gerir, recursos esses que são limitantes.

A sua repartição é fundamental e, porventura, mais importante que a sua área total. Sempre que possível, as culturas para a fauna devem ser rectangulares ou lineares por forma, a maximizar o efeito de orla entre diferentes meios (na orla os animais têm acesso a recursos disponíveis nos diferentes meios que esta separa), devendo também ser intercaladas. A largura das parcelas não deve exceder os 100 metros para os ungulados e os 50 m para as aves e os demais mamíferos. Regra geral, quanto menor for a dimensão da espécie a gerir, mais estreitas devem ser as parcelas de culturas. A forma como são dispostas no terreno também deve ter em consideração a densidade e o tamanho médio dos territórios.

Tendo em conta a utilidade que podem constituir, por exemplo, para as espécies cinegéticas, aconselha-se a utilização de diferentes culturas, por forma a fornecerem diferentes tipos de recursos durante o ciclo anual, uma vez que a cultura de uma única espécie dificilmente pode facultar alimento e diferentes tipos de coberto durante todo o ano.
As culturas para a fauna podem ser instaladas de diversas maneiras, dependendo da zona e espécie(s) animal a considerar. Destacamos as seguintes formas ou meios de instalação:

i) manchas: por exemplo através da constituição de parcelas, devidamente espaçadas;

ii) meios lineares: utilizando-se para o efeito, caminhos, estradas, orlas, etc.

De uma forma geral, a escolha das culturas a utilizar deve obedecer às seguintes regras básicas:

i) dever-se-á, em primeiro lugar, estabelecer as insuficiências de recursos alimentares e de abrigo da área e espécie(s) a beneficiar, analisando em que medida as culturas a utilizar podem colmatar essas insuficiências;

ii) as plantas a utilizar deverão estar bem adaptadas às condições ambientais do local de instalação;
iii) deve ser sempre ponderada qual a melhor forma de instalação: por exemplo, se através de parcelas distribuídas ao longo de toda a área; se na forma de meios lineares (e.g., utilizando faixas ao longo de caminhos, estradas, ecótonos, etc.);

iv) deve-se ponderar a possibilidade de utilização de misturas de diferentes espécies, as quais se poderão revelar mais interessantes do que as culturas monoespecíficas;

v) se os coelhos ou outros herbívoros que não sejam objecto prioritário de gestão forem muito abundantes, devem ser eliminadas as culturas mais apreciadas por estes ou, em alternativa, proteger as parcelas a instalar.

Pensamos que a utilização de culturas para a fauna pode ser um instrumento importante de ordenamento em meios florestais e agro-florestais. Estes sistemas caracterizam-se muitas vezes por apresentarem baixas disponibilidades alimentares e um deficiente coberto herbáceo para a nidificação das aves que criam no solo, tornando-os pouco atractivos para espécies com elevado valor económico como a perdiz-vermelha.
Deste modo, a implementação de parcelas com culturas para a fauna poderá contribuir para uma gestão mais adequada da fauna bravia, podendo a sua utilização ser aplicada em espécies de elevado valor de conservação, como por exemplo as espécies de aves estepárias (como a abetarda e o sisão), e a espécies cinegéticas de elevado valor económico (como a perdiz-vermelha e o veado)

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