O excessivo enriquecimento em nutrientes das massas de água e a consequente degradação dos sistemas aquáticos é um fenómeno cada vez mais comum, maioritariamente induzido directa ou indirectamente por actividades humanas. Maria João Cruz e Rui Braz | ||
A eutrofização é um fenómeno que afecta inúmeros lagos, albufeiras, rios e mesmo zonas marinhas costeiras de todo o mundo, alterando o equilíbrio do ecossistema e deteriorando a qualidade da água o que limita a sua utilização. A eutrofização pode ser definida como um aumento da quantidade de nutrientes e/ou matéria orgânica num ecossistema aquático, resultando numa maior produtividade primária e, geralmente, na diminuição do volume total do ecossistema. Devido a um aumento de nutrientes disponíveis, originam-se blooms (aumentos de grande magnitude) de algas verdes e de cianobactérias (algas azuis) que podem ter efeitos nocivos. São estes blooms que acabam por provocar o aumento da produtividade primária. | ||
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As plantas aquáticas necessitam de uma grande variedade de constituintes químicos para crescerem, mas geralmente apenas o fósforo e/ou o azoto estão em défice nos sistemas aquáticos, sendo por isso os factores que limitam o seu crescimento. A eutrofização resulta, na maioria das vezes, do aumento destes nutrientes (sobretudo do fósforo) que permite a multiplicação descontrolada das algas. A eutrofização pode ser natural ou consequência de actividades humanas. Quando a origem é natural, o sistema aquático torna-se eutrófico muito lentamente e o ecossistema mantém-se em equilíbrio. Geralmente a água mantém-se com boa qualidade para o consumo humano e a comunidade biológica continua a ser saudável e diversa. Quando, pelo contrário, a eutrofização resulta de actividades humanas, há um aceleramento do processo, os ciclos biológicos e químicos podem ser interrompidos e, muitas vezes, o sistema progride para a um estado essencialmente morto. A eutrofização induzida pelo Homem desenvolve-se rapidamente devido a fontes de nutrientes geradas pelas actividades humanas. As fontes mais comuns são as escorrências dos campos agrícolas (que são muito ricas em nutrientes devido à utilização de fertilizantes), os efluentes industriais, os esgotos das áreas urbanas e a desflorestação. Todas elas provocam a libertação para os ecossistemas aquáticos de grandes quantidades de nutrientes que ficam disponíveis para o crescimento do fitoplâncton (conjunto de algas microscópicas com pouco ou nenhum poder de locomoção, deslocando-se segundo o movimento da água, que inclui as algas verdes e as cianobactérias). | ||
Outra consequência do aumento da biomassa algal é a diminuição da capacidade de auto-purificação do sistema, ou seja, o poder de reciclar a matéria orgânica diminui, levando à acumulação de detritos e sedimentos. Num estado mais avançado a concentração de oxigénio vai diminuindo, a profundidade de compensação (profundidade à qual o consumo de oxigénio iguala a sua produção) diminui e as espécies que não conseguem tolerar concentrações de oxigénio baixas tendem a desaparecer, havendo uma nova redução na biodiversidade. O pH também se altera, passando de neutro ou ligeiramente alcalino a ácido, o que também pode afectar algumas espécies. | ||
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Finalmente, pode também ocorrer uma grande acumulação de toxinas (produzidas pelas cianobactérias) e de parasitas, o que pode produzir fortes impactos ao nível da saúde pública. A produtividade acelerada que advém da eutrofização é desejada e mesmo encorajada por certas populações humanas que têm em vista o aumento da produção de fontes proteicas para consumo (por exemplo, o aumento da produção de algumas espécies de peixes). No entanto, nas culturas ocidentais a eutrofização é menos desejável porque os lagos são utilizados prioritariamente para abastecimento de água para utilização doméstica e industrial ou para fins recreativos, havendo uma grande necessidade de a controlar. A comunidade científica tem tentado encontrar soluções para o problema da crescente eutrofização que se tem verificado em inúmeros corpos de água de todo o mundo. Uma das soluções que se tem demonstrado altamente funcional é a biomanipulação. Esta consiste em controlar os organismos que vivem nos corpos de água, assim como dos seus habitats, e na utilização das suas relações tróficas para reduzir a biomassa de algas. | ||
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Sendo a eutrofização um fenómeno que afecta cada vez mais corpos de água, o seu controlo não pode ser realizado com o único objectivo de restaurar os lagos já afectados. Pelo contrário, é preciso preservar aqueles que ainda se encontram em boas condições. | ||
BIBLIOGRAFIA Cole, G. A. (1983). Textbook of Limnology. 3th edition. The C. V. Mosby Company. Goldman, C. R. e Horne, A. J. (1983). Limnology. International Student Edition. McGraw-Hill. Irvine, K., Moss, B. e Stansfield, J. (1990). The potencial of artificial refugia for maintaning a comunity of large-bodied cladocera against fish predation in a shalow eutrophic lake. Hydrobiologia 200/201: 379-389. Schindler, W. D. (1990). Experimental perturbations of whole lakes as tests of hypotheses concerning ecossystem structure and function. Oikos 57: 25-41. Wetzel (1993). Limnology. Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. |
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
A eutrofização dos sistemas aquáticos
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2 comentários:
Sim, senhor um texto claro e conciso!
A equipa que gere este blog está de parabéns.
Os textos escolhidos são muito bons e sao de interesse geral, visto abrangerem as diversas áreas da biologia.
Continuem assim...
Stella Esteves
Exposiçaõ clara do assunto e coesão da estrutura contextual.
Bastante útil para compreenão do assunto.Parabéns!
Idemar Passos
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