Lusa
A utilização de etanol produzido a partir de cana-de-açúcar, soja e de milho pode ser mais nociva ao Ambiente do que a gasolina, segundo um recente artigo de um investigador norte-americano na revista “Science”.
Segundo William Laurance, do Instituto de Pesquisas Tropicais Smithsonian, com sede no Panamá, o etanol produz um volume até 60 por cento menor de gases com efeito estufa do que a gasolina, mas há outros parâmetros a ponderar.
"Se considerarmos outros parâmetros ambientais, como o uso de fertilizantes, a grande quantidade de água e a desflorestação de áreas para o plantio, os efeitos ambientais do etanol são muito maiores", disse o investigador.
"As pessoas precisam ficar atentas aos impactos negativos do etanol, até porque os interesses da indústria da cana-de-açúcar não são necessariamente os mesmos interesses da sociedade", afirmou.
O artigo, publicado numa recente edição da revista científica “Science”, foi baseado num estudo divulgado no ano passado na Suíça.
Ao analisar 26 tipos de biocombustíveis produzidos actualmente, o estudo concluiu que 21 deles reduzem em mais de 30 por cento as emissões de gases com efeito estufa, na comparação com a gasolina.
Nos tipos analisados, doze foram considerados mais nocivos ao Ambiente do que os combustíveis fósseis, entre eles o etanol de milho dos Estados Unidos e o de cana-de-açúcar do Brasil.
A lista dos biocombustíveis mais nocivos ao Ambiente inclui ainda o biodiesel a partir de soja, produzido no Brasil, e o biodiesel a partir de palma, produzido na Malásia.
William Laurance salientou que a crescente produção de etanol de cana-de-açúcar e do biodiesel de soja tem ocupado grandes áreas agrícolas, o que reduz a produção de grãos e aumenta o preço dos alimentos.
"A produção de combustível, seja de soja ou de cana, também causa um aumento no custo dos alimentos, tanto de forma directa quanto indirecta", afirmou, referindo-se à subida do açúcar por causa da maior produção de etanol.
A procura de mais áreas para o plantio de cana-de-açúcar e de soja tem sido responsável pela desflorestação de matas nativas na Amazónia, Mata Atlântica (ao longo do litoral) e Cerrado (savana), na região Centro-Oeste do Brasil.
"A produção de cana-de-açúcar utiliza grande quantidade de água, isso sem falar na poluição dos rios e os fertilizantes que, após serem quebrados em óxido nitroso, também vão afectar a camada de ozono", afirmou.
William Laurance salientou ainda que os produtores queimam as plantações para facilitar a colheita manual da cana-de-açúcar, o que emite grande quantidade de gases com efeito estufa. "É importante até mesmo para o futuro do etanol o desenvolvimento de novas tecnologias que garantam uma produção mais eficiente e mais limpa", afirmou.
O investigador norte-americano defendeu a mudança de estratégias na produção de biocombustíveis, com a criação de uma certificação internacional para evitar que sejam mais danosos ao ambiente do que a gasolina.
De acordo com Laurance, uma das questões que precisa rapidamente ser revista é a política de concessão de 11 mil milhões de dólares (7,4 mil milhões de euros) anuais de subsídios agrícolas aos produtores de milho, nos Estados Unidos. Os subsídios estimulam a produção de etanol a partir do milho, como substituto da gasolina, eleva o preço do produto no mercado internacional, com graves consequências globais.
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