O novo aeroporto internacional de Lisboa pode implicar «impactes potenciais muito negativos» na biodiversidade e conservação da natureza tanto na Ota como no Campo de Tiro de Alcochete (CTA), de acordo com o estudo coordenado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que faz a análise comparativa entre as localizações Alcochete e Ota.
O documento, divulgado quinta-feira pelo Governo depois de ter anunciado que voltava atrás na sua decisão e trocava a Ota por Alcochete, assinala que a implantação da infra-estrutura no CTA provocará uma redução no valor ecológico do território mais acentuada do que na Ota, devido aos maiores efeitos negativos previsíveis sobre o Sistema Nacional de Áreas Classificadas e sobre as ocupações do solo favoráveis à biodiversidade. Na vertente da conservação da natureza «considerou-se que os efeitos seriam piores em Alcochete, mas estes não impõem a exclusão da infra-estrutura naquela localização», salienta Pedro Beja, da Erena, empresa responsável pelo trabalho relativo à conservação da natureza.
Em Alcochete também são prováveis maiores efeitos negativos do que na Ota sobre habitats e espécies protegidos, se bem que o inverso aconteça no caso da flora, peixes dulciaquícolas e morcegos, refere Pedro Beja. Por outro lado, no caso do CTA são «particularmente relevantes» os impactes potenciais sobre as aves aquáticas, uma vez que para estas o Estuário do Tejo assume uma importância muito elevada para a conservação da biodiversidade à escala europeia. Em contrapartida, a localização no CTA pode induzir a criação de uma zona tampão para a Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, incluindo as áreas ecologicamente mais importantes da sua envolvente, no âmbito das medidas de compensação de impactes, refere o estudo.
Ainda de acordo com o documento, a vulnerabilidade à poluição dos aquíferos é sensivelmente igual nas duas localizações, ambas inseridas na grande unidade hidrogeológica Bacia do Tejo-Sado. Segundo Luís Ribeiro, que coordenou o estudo das condições hidrogeológicas das potenciais localizações do futuro aeroporto, «qualquer uma das localizações tem riscos, mas Alcochete apresenta-se como menos susceptível à contaminação. De qualquer modo, existem mecanismos para remediar eventuais contaminações».
«Quando se diz que a construção das futuras infra-estruturas vem colocar em risco a contaminação de uma das maiores reservas de água subterrânea daquela área, isso não é totalmente verdade. O grande consumo de água subterrânea na margem sul é proveniente do aquífero mais profundo que existe naquela área. Entre este e o aquífero superficial há uma formação geológica que protege naturalmente qualquer contaminação que venha de cima. Não é à toa que, por exemplo, a Quimigal esteve décadas a contaminar os solos, mas esta contaminação não chegou ao aquífero mais profundo», ressalta o docente do Instituto Superior Técnico.
Relativamente ao escoamento das águas superficiais, estas serão afectadas, nas duas localizações, pela construção da plataforma do aeroporto. «Os condicionamentos associados ao reordenamento das linhas de água na zona da Ota, bem como o seu contacto hidráulico directo com o estuário do rio Tejo, conduzem a que nesta zona as necessidades de intervenção sejam de maior complexidade que na zona do CTA», refere o sumário executivo do documento.
A opção de localizar o novo aeroporto na margem sul do Tejo foi levantada com um estudo da Confederação da Indústria Portuguesa, apresentado em Junho de 2007, que obrigou o executivo a repensar a localização na Ota. Os protestos que se fizeram, entretanto, sentir nos mais diversos quadrantes da sociedade levaram a que o Governo pedisse ao LNEC um estudo comparativo entre as duas possibilidades, apresentado na semana passada.
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