Lic de Biologia no ISA

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sexta-feira, 13 de julho de 2007

Lar, doce lar - ninhos, tocas e similares

Escondidos, camuflados ou construídos em locais praticamente inacessíveis, os abrigos dos animais constituem, por vezes, verdadeiras obras primas da engenharia, capazes de satisfazer as mais diversas necessidades de cada “construtor”.

Alexandre Vaz

Existe um grande número de animais, desde os insectos aos mamíferos, passando pelos aracnídeos, peixes, répteis, anfíbios e aves, que em determinadas fases do seu ciclo vital carecem de protecção contra os elementos naturais e potenciais predadores. Para se resguardar, a maioria constrói tocas e ninhos, mas também existem animais que não precisam de o fazer, porque a sua estrutura orgânica prevê essas eventualidades. O paradigma destes talvez seja o caracol. Também bastante comum, é a adopção de refúgios naturais, como cavidades em árvores ou em rochas.

Algumas espécies de aves, que vivem em regiões temperadas e que não encontram no clima qualquer factor adverso, estão adaptadas a colocarem os ovos directamente no solo, ou no tronco de uma árvore. Para fazer face aos predadores, os ovos destas aves são frequentemente miméticos, confundindo-se muito facilmente com a paisagem. Há animais que constroem ninhos apenas para criar a prole, outros para passar a noite, para hibernar durante longos meses, ou até para passar toda uma vida. Frequentemente pensamos nas nossas casas como os exemplos acabados do avanço tecnológico a que chegámos. No entanto, entre os outros animais, podemos encontrar soluções de um engenho tal, que nada ficam a dever às dos mais competentes arquitectos e engenheiros.
As tocas são, por definição, escavadas no solo ou em vertentes de terra, lama, neve ou outro tipo de sedimento. Os ninhos são estruturas de complexidade muito variável, que podem estar suspensos, assentes em troncos, ramos, pequenas ervas, algas, no chão, ou até flutuar. Quando se fala de ninhos, os primeiros que geralmente nos ocorrem são os das aves, muito embora também os haja construídos por peixes, insectos, aracnídeos e roedores.

Entre as aves encontram-se alguns dos mais hábeis construtores de ninhos. A maior parte delas utiliza o ninho apenas durante a época de reprodução, para aí pôr os seu ovos e, eventualmente, albergar as crias. As características dos ninhos adequam-se à morfologia dos que os constroem, ao clima do local onde são feitos e à presença de predadores. Os ninhos de alguns abutres podem ter dois metros de diâmetro e pesar mais de uma tonelada, mas os ninhos dos colibris são pouco maiores que um dedal. Há também ninhos flutuantes, como os dos mergulhões, escavados como os dos abelharucos, ou comestíveis como os dos andorinhões da Malásia, só para citar alguns.
Os ovos das aves são altamente nutritivos, e existem animais que em determinadas estações do ano alimentam-se fundamentalmente deste recurso. Em África, os tecelões adaptaram-se a construir ninhos suspensos na ponta de finos ramos, que ficam fora do alcance da maioria dos predadores terrestres ou alados. Mesmo assim, as cobras arborícolas conseguem facilmente atingi-los, predando com frequência os ovos ou as crias. Para contornar este problema, algumas espécies, como o Anthoscopus minutos, um pequeno passeriforme, constroem ninhos dotados de uma entrada conspícua, que conduz a uma câmara falsa. Assim, as cobras que atingem o ninho, entram nele e concluem ter chegado tarde demais, não imaginando que o seu objectivo se encontra separado de si apenas pela fina parede da câmara do ninho.

A importância dos ninhos não se resume à protecção contra os predadores. O processo da incubação dos ovos carece de características térmicas específicas. Os ninhos (ou tocas) escavados no solo pelos abelharucos mantêm no seu interior uma temperatura constante de cerca de 25º C, mesmo que a temperatura exterior varie entre os 13º C e os 51º C. A importância da temperatura no ninho reflecte-se não só directamente no desenvolvimento dos ovos, mas também no tempo que os progenitores despendem na incubação. Quem aperfeiçoou estas técnicas até ao extremo, foram as aves pertencentes à família Megapodiidae, que habitam a Ásia e a Oceânia, e que quase se alheiam do processo de incubação, ficando este a cargo do calor libertado durante a decomposição do enorme monte de matéria orgânica que constitui o ninho. O elemento masculino do casal limita-se, durante este processo, a verificar a temperatura dentro do ninho, podendo, se necessário, cobrir ou descobrir os ovos.
Também os mamíferos fabricam estruturas de formas muito variadas. Existem roedores que fazem ninhos nas ervas, outros que escavam intermináveis galerias no subsolo e símios que constroem ninhos nas árvores para passar a noite. No entanto, entre os mamíferos há uma espécie que se destaca nesta matéria - o castor. O castor, que é o segundo maior roedor do planeta, não se limita a construir uma toca. Para se assegurar que esta apenas é acessível por debaixo de água, e por isso bastante segura, a família dos castores constrói uma rede de diques, que pode somar um quilómetro de comprimento. Os castores estão dotados de poderosos dentes incisivos de crescimento contínuo, e conseguem derrubar uma árvore com 12 cm de diâmetro, em menos de meia hora. O impacto que uma família de castores tem na paisagem, é por tudo isto, impar no mundo animal.

Poder-se-ia supor que as construções mais complexas seriam as elaboradas pelos animais tidos por mais inteligentes, como os mamíferos ou as aves. No entanto, nem sempre é assim. Os ninhos de abelhas podem albergar várias dezenas de milhar de indivíduos, e são formados por células hexagonais construídas com cera. As paredes de cada célula têm, aproximadamente, 0,002 mm de espessura e cada parede faz com as que lhe são contíguas um ângulo de exactamente 120º. Dentro da colónia existem espaços reservados para armazenar alimento, para a criação das larvas e para a rainha.
As térmitas constroem colónias que podem ter vários milhões de indivíduos. As termiteiras são estruturas muito complexas, fabricadas com saliva, excrementos e partículas do solo, com câmaras onde são feitas culturas de fungos, que decompõem o alimento para as térmitas. Nos ambientes áridos, os fungos só subsistem dentro dos enormes ninhos, que graças a engenhosas soluções, como galerias verticais que dão acesso à humidade do subsolo, ou a um revestimento poroso que facilita a libertação de calor, mantêm os níveis de temperatura e humidade adequados.

Para além destes exemplos, muitos outros podiam ser dados, porque o mundo natural está repleto de seres que, tal como muitos de nós, lutam arduamente para ter a sua habitação.

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