"Tentamos preparar nanopartículas, que são pequenas esferas, com materiais lipidicos muito parecidos com os lípidos presentes no organismo humano, para que levem uma determinada droga ou substância para um determinado local de acção", explicou à Agência Lusa Eliana Souto, de 31 anos, doutorada em Nanotecnologia, Biofarmácia e Biotecnologia Farmacêutica pela Universidade Livre de Berlim e actualmente investigadora na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa.
A possibilidade de a droga ser dirigida para o local onde deve actuar faz diminuir a quantidade de medicamento necessária, reduzindo os seus efeitos secundários no organismo humano e o custo das terapêuticas, disse Eliana Souto, realçando que este trabalho pode demorar ainda dois anos a concretizar.
Além de Eliana Souto, foram contempladas com o prémio de apoio à investigação "Medalhas de Honra L'Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência", no valor individual de 20 mil euros, duas outras jovens investigadoras em projectos dedicados ao estudo do cancro do pulmão e do síndrome metabólico (pré-diabetes).
Iola Duarte, de 32 anos, investigadora do Laboratório Associado CICECO da Universidade de Aveiro, foi contemplada por estudos para compreender o comportamento metabólico dos tumores e chegar a modelos de classificação capazes de distinguir tecido tumoral de tecido normal. Este projecto, que desenvolve em colaboração com os Hospitais e a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, poderá resultar num novo meio de diagnóstico precoce destes tumores complementar à análise convencional.
A investigadora Anabela Rolo, 30 anos, do Centro de Neurociências e Biologia Celular do Departamento de Zoologia da Universidade de Coimbra, foi a terceira premiada, por um projecto que pretende identificar quais são as alterações metabólicas e moleculares que ocorrem nos doentes com o síndrome metabólico, também conhecido como pré-diabetes. O objectivo da investigadora é chegar a uma terapêutica que interrompa o ciclo de alterações metabólicas destes pacientes, ajudando, deste modo, a prevenir o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
O prémio, no valor individual de 20 mil euros, é atribuído pela quarta vez em Portugal numa parceria entre a L'Oréal Portugal, Comissão Nacional da UNESCO e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, inspirado no programa internacional L'ORÉAL-UNESCO For Women in Science, que desde 1999 tem atribuído prémios a investigadoras de todo o mundo.
Iola Duarte – 32 anos
Doutorada em Química, na Universidade de Aveiro
Investigadora do Laboratório Associado CICECO, Universidade de Aveiro
Quais as diferenças ao nível de composição química e metabolismo entre o tecido pulmonar saudável e tumoral? Como identificá-las mais precocemente?
E que técnicas menos invasivas do que a colheita de biópsias poderão ser desenvolvidas?
Estas são algumas das questões a que Iola Duarte quer responder com o projecto que desenvolve em colaboração com os Hospitais e a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Neste sentido, estuda o tecido normal e neoplásico do pulmão, fluidos biológicos e linhas celulares, para compreender o comportamento metabólico dos tumores e, no futuro, apoiar novos meios de diagnóstico e tratamento do cancro do pulmão.
Através da análise de centenas de fragmentos de pulmão, de plasma sanguíneo, urina e condensado do ar exalado, realizada por espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) pretende, recorrendo a estatística multivariada, identificar biomarcadores da doença e construir modelos de classificação capazes de distinguir tecido tumoral de tecido normal e de discriminar diferentes tipos de tumores. Estes modelos poderão estar na base de um novo meio de diagnóstico precoce, complementar à análise histológica convencional.
Noutra vertente, visa estabelecer e caracterizar a bioquímica de linhas celulares de cancro de pulmão, estudando a resposta metabólica destas células a agentes de quimioterapia administrados por nanosistemas de transporte e libertação controlada, com vista ao desenvolvimento de novos meios de tratamento localizado dos tumores, mais eficazes e com menos efeitos secundários adversos.
Eliana Souto - 31 anos
Doutorada em Nanotecnologia, Biofarmácia e Biotecnologia Farmacêutica pela Universidade Livre de Berlim
Investigadora na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa
De que forma os mais recentes avanços nos campos da nanotecnologia e da biofarmácia se podem conjugar para melhorar a biodisponibilidade dos fármacos para administração tópica, dérmica e transdérmica que até aqui apresentam algumas limitações terapêuticas?
É esta a área de pesquisa de Eliana Souto, que visa conceber, desenvolver e avaliar novos sistemas terapêuticos para administração de fármacos por via tópica, dérmica e transdérmica, recorrendo à utilização de partículas de natureza lipídica e de dimensões nanométricas (coloidais), que transportarão os fármacos aplicados na superfície da pele, através da epiderme e derme.
Estes vectores coloidais - intitulados Nanopartículas de Lípidos Sólidos (SLN) e Vectores Lipídicos Nanoestruturados (NLC) - são constituídos por materiais lipídicos estrutural e funcionalmente semelhantes aos existentes nos tecidos humanos, sendo, por isso, biocompatíveis, biodegradáveis, biotoleráveis e de reduzida toxicidade e antigenicidade.
Neste sentido, quer avaliar se estes SLN e NLC podem aumentar a biodisponibilidade dos fármacos que têm manifestado limitações terapêuticas e farmacológicas (antifúngicos e antibióticos), dérmica (anti-inflamatórios não esteróides) ou transdérmica (corticosteróides e hormonas lipossolúveis). A provar-se esta superioridade, poder-se-ia diminuir a quantidade de fármaco e a exposição do doente aos efeitos tóxicos e secundários associados a maiores quantidades de medicamento, diminuindo igualmente o custo das terapêuticas.
Anabela Rolo - 30 anos
Doutorada em Biologia Celular pela Universidade de Coimbra
Investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular, Departamento de Zoologia, Universidade de Coimbra
Quais as alterações metabólicas e moleculares que estão associadas ao síndrome metabólico, uma doença que, face ao número crescente de casos de obesidade e diabetes, é já considerada um problema de saúde pública mundial?
Os estilos de vida sedentários e a alimentação demasiado centrada nos hidratos de carbono e gorduras têm levado a um aumento significativo dos casos de obesidade, tornando o síndrome metabólico, também conhecido como pré-diabetes, num problema de abrangência mundial e sem solução à vista.
Por isso mesmo, Anabela Rolo quer identificar quais são as alterações metabólicas e moleculares que ocorrem nos doentes com este síndrome, focando-se em especial na função mitocondrial.
Sabendo que em situações de obesidade e de resistência à insulina as vias do metabolismo oxidativo são alteradas, o facto de se conhecerem os mecanismos moleculares que estão na origem destas alterações poderá permitir interromper o ciclo vicioso de alterações metabólicas, ajudando, deste modo, a prevenir o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
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