Lic de Biologia no ISA

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sexta-feira, 8 de junho de 2007

Esquilos e Fogo Controlado - Em busca das pinhas roídas pelo Esquilo-vermelho


O Esquilo-vermelho, que voltou a colonizar o Norte de Portugal a partir dos anos oitenta, ocorre em matas onde se implementa o fogo controlado como medida de gestão. Neste estudo avaliou-se o efeito desta medida nas suas populações.

Ana Delgado, Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves-ISA


Espécie com estatuto de conservação Raro, dada como extinta em Portugal desde o século XVI, o Esquilo-vermelho voltou a colonizar o Norte do País em 1980, a partir das populações do Norte de Espanha.

Actualmente, esta espécie é observada frequentemente nas florestas de Pinheiro-bravo do Minho, nomeadamente numa região onde o fogo controlado tem vindo a ser aplicado desde 1980. Esta região localiza-se no perímetro florestal Entre Vez e Coura, próximo de Paredes de Coura. Dada a abundância desta espécie nesta região, pretendeu-se avaliar qual o efeito do fogo controlado sobre a sua população. Este estudo foi elaborado no âmbito do Projecto "Efeito do fogo controlado nas populações de vertebrados terrestres" e ocorreu entre Maio de 1998 e Abril de 2000.



Tendo o Esquilo-vermelho uma dieta essencialmente vegetal, preferindo as sementes de coníferas, (que retira das pinhas recolhidas da árvore ou das pinhas caídas no solo), pretendemos estudar a actividade alimentar nas áreas ardidas a partir das pinhas roídas pelos esquilos encontradas no solo. Queríamos perceber se os esquilos tinham algum apetite particular por pinhas tostadas...


Para tal, foram caracterizadas parcelas que foram sujeitas a fogo controlado (que ocorreu nos meses de Dezembro e Janeiro de 1998/99). Paralelamente, foi utilizada a mesma metodologia em zonas-testemunha, com características de povoamento semelhantes mas não sujeitas ao fogo. Tanto as zonas sujeitas ao fogo controlado como as zonas testemunha, foram caracterizadas antes e após do fogo. Foram realizadas visitas mensais nas parcelas, em áreas rectangulares de 10 x 50m, para remoção e contabilização de pinhas roídas pelo esquilo. Em cada visita as pinhas roídas foram retiradas da parcela para não voltarem a ser contabilizadas nas visitas seguintes.

Verificámos que nas áreas ardidas o número de pinhas roídas diminui logo após o fogo, aumentando nas áreas não queimadas (Figura 1). Este facto sugere que o esquilo prefere as áreas não queimadas, apesar de existir, aparentemente, uma maior disponibilidade de pinhas no solo nas zonas recém-queimadas, provocada pela queda de pinhas e também por se verificar uma maior detectabilidade de pinhas no solo (devido a uma menor cobertura da vegetação causada pelo fogo). (Figura 2)


Figura 1. Número de pinhas roídas pelo esquilo antes e após o fogo controlado, na área queimada (linha descontínua) e não queimada (linha contínua).


Figura 2. Número de pinhas disponíveis no solo para o esquilo antes e após o fogo controlado, na área queimada (linha descontínua) e não queimada (linha contínua).

Para os esquilos que utilizaram as áreas queimadas, queríamos perceber se estes preferiam as pinhas queimadas ou as não queimadas. Verificámos que, logo após o fogo, os esquilos roíam as pinhas queimadas mas deixaram de roê-las pouco tempo depois, quando as pinhas não queimadas começaram a estar disponíveis (Figura 3), sugerindo assim que os esquilos roem as pinhas queimadas, não por as acharem especialmente saborosas mas provavelmente por não terem alternativa.


Figura 3. Proporção de pinhas roídas após o fogo controlado, na área queimada.


Deste modo, este estudo sugere que as áreas ardidas não são importantes para o Esquilo-vermelho. Dada a sua abundância, na região o fogo controlado parece não afectar a população de esquilos. A pequena dimensão das parcelas queimadas fogos (área média das parcelas estudadas: 3ha) permite ao esquilo recorrer à área circundante ao fogo para procurar alimento (área vital do esquilo em média 7ha).

Agradecimentos

Estiveram envolvidos no projecto "Efeito do fogo controlado nas populações de vertebrados terrestres" o Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” do Instituto Superior de Agronomia, ERENA Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, Lda., e a Escola Superior Agrária de Coimbra.

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