O conceito de espaço verde urbano e respectivas funções sofreram profundas alterações ao longo do tempo, sendo actualmente aceites de forma unânime os seus múltiplos papéis de fundamental importância para o bem-estar da população urbana. Cláudia Fulgêncio | ||
A necessidade de espaços verdes urbanos é uma das consequências da evolução que as cidades têm sofrido ao longo do tempo. Foi a partir da era industrial, com o êxodo da população rural para a cidade, que surgiu o conceito de “espaço verde urbano ”, como espaço que tinha por objectivo recriar a presença da natureza no meio urbano. No século XIX os espaços verdes funcionavam como locais de encontro, de estadia ou de passeio público. | ||
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Fotografias de José Romão | ||
Nas cidades mais industrializadas surge, posteriormente, o conceito de “pulmão verde”, ou seja, o de espaço verde com dimensão suficiente para produzir o oxigénio necessário à compensação das atmosferas poluídas. Foi à luz deste conceito que surgiu o Parque de Monsanto, em Lisboa. Mais tarde, este conceito evoluiu para o de “cintura verde” a rodear a “cidade antiga”, separando-a da “zona de expansão”. No início do século XX surgiu a teoria do continuum naturale, baseada na necessidade da paisagem natural penetrar na cidade de modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções: espaço de lazer e recreio; enquadramento de infra-estruturas e edifícios; espaço de produção de frescos agrícolas e de integração de linhas ou cursos de água com os seus leitos de cheia e cabeceiras. Este objectivo é realizado quer através da criação de novos espaços, quer da recuperação dos existentes, e da sua ligação através de “corredores verdes”, integrando caminhos de peões e vias. É esta a lógica que ainda hoje se mantém. Os espaços verdes urbanos, quer públicos quer privados, assumem uma crescente importância nas políticas regionais e municipais, procurando-se uma lógica de contínuo vivificador de todo o tecido urbano e de ligação ao espaço rural envolvente. | ||
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Padrões recomendados para a estrutura verde urbana Cada ser humano tem necessidade de uma quantidade média de oxigénio igual à que pode ser fornecida por uma superfície foliar de 150 m2. Tendo por base esta superfície, o valor global considerado desejável para a estrutura verde urbana é de 40 m2/habitante. Esta estrutura deverá ser constituída por duas subestruturas, para as quais se apontam as seguintes dimensões: estrutura verde principal – 30 m2/habitante e estrutura verde secundária – 10 m2/habitante. A estrutura verde principal engloba os espaços verdes localizados nas áreas de maior interesse ecológico ou nas mais importantes para o funcionamento dos sistemas naturais (vegetação, circulação hídrica e climática, património paisagístico, etc.). Com esta estrutura pretende-se assegurar a ligação da paisagem envolvente ao centro da cidade e o enquadramento das redes de circulação viária e pedonal, por integração dos espaços que constituem os equipamentos colectivos verdes de maior dimensão e de concepção mais naturalista. A estrutura verde secundária penetra nas zonas edificadas, apresentando portanto um carácter mais urbano, e modificando-se ao longo do seu percurso, para constituir ora um espaço de jogo e recreio, ora uma praça arborizada, ora um separador entre trânsito e peões. | ||
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Funções dos espaços verdes no tecido urbano Dadas as alterações e influências negativas que a intensificação da edificação provoca no clima urbano, uma das importantes funções da vegetação consiste no controle do microclima, contribuindo para a sua amenização, através das suas propriedades de termorregularização, controle da humidade, controle das radiações solares, absorção de CO2 e aumento do teor em O2, protecção contra o vento, contra a chuva e o granizo e protecção contra a erosão. Os espaços verdes são também úteis na separação física do trânsito automóvel da circulação de peões, filtram os gases tóxicos produzidos pelos automóveis, absorvem parte do ruído provocado e reduzem o encadeamento. | ||
Desempenham ainda funções culturais, de integração, de enquadramento, didácticas, de suporte de uma rede contínua de percursos para peões, de jogo, lazer e recreio. O interesse cultural do espaço verde urbano pode sintetizar-se na possibilidade de incentivar as pessoas à apreensão e vivência dos objectos e dos conjuntos em que se organizam. As espécies vegetais, de diferentes formas, cores e texturas, constituem elementos plásticos com os quais se pode aumentar o interesse estético dos espaços urbanos. A observação e contemplação da vegetação pela população urbana possibilitam a percepção da sequência do ritmo das estações, e de outros ciclos biológicos, o conhecimento da fauna e flora espontânea e cultivada, o conhecimento dos fenómenos e equilíbrios físicos e biológicos. Não obstante o reconhecimento das funções essenciais associadas à presença dos espaços verdes, a sua implementação encontra-se sujeita a múltiplas ameaças, entre as quais se destaca a excessiva densificação da malha urbana, associada a situações de especulação fundiária e a ausência de um planeamento adequado. |
quarta-feira, 27 de junho de 2007
A importância dos Espaços Verdes Urbanos
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