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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Espécies de água doce do Mediterrâneo entre as mais ameaçadas do planeta

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Foto: DR
As libélulas são indicadores da qualidade das águas

A biodiversidade dos rios e lagos do Mediterrâneo está numa situação delicada. A UICN (União Mundial para a Conservação), que há 40 anos oficializa as espécies em vias de extinção, está prestes a declarar a região como um dos maiores "pontos negros" do planeta. Durante uma semana, 25 peritos internacionais fizeram, em Portugal, o esboço da primeira Lista Vermelha dos ecossistemas de água doce do Mediterrâneo. Deve estar pronta no Verão de 2008.

De 15 a 19 de Outubro só se falou de libélulas, peixes, plantas aquáticas e moluscos no Cibio (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto), em Vila do Conde. Os cientistas juntaram os dados que trouxeram de países como Alemanha, França, Inglaterra, Sérvia, Argélia e Líbano, e o quadro que se formou deixou-os preocupados.

"Ainda não temos os números definitivos, mas é certo que as espécies de água doce do Mediterrâneo estão muito ameaçadas. Mais do que em qualquer outra região", disse ao PÚBLICO Annabelle Cuttelod, coordenadora da Lista Vermelha da UICN para o Mediterrâneo. Para amostra, Cuttelod avança que 56 por cento das espécies de peixe endémicas - que só existem naquela região - estão ameaçadas de extinção. À escala mundial, estes números "são muito maus".

Mas o impacto dos números saídos das mãos dos investigadores chega filtrado e atenuado aos cidadãos. Ou porque a ameaça de extinção das espécies já se tornou um chavão, ou porque não é habitual pensar "naquilo que vive na água".

"O ecossistema das espécies de água doce é mesmo um dos mais ameaçados do mundo. Está numa situação crítica. Fala-se muito da qualidade da água ou dos problemas de abastecimento. Mas nunca se pensa no que vive "na" água", comentou.

Com um traço de admiração na voz, Cuttelod desfia qualidades. "Os moluscos conseguem absorver até 85 por cento da poluição da água; as plantas aquáticas podem evitar inundações e as libélulas são verdadeiros indicadores da qualidade dos rios".

Perda de biodiversidade

A situação do Mediterrâneo explica--se, segundo Cuttelod, pelo "aumento da população humana, a agricultura intensiva, sobre-exploração dos recursos hídricos e poluição".

As barragens também podem ser um problema e a lista das causas cresce com as espécies exóticas "que estão a invadir os países" do Mediterrâneo. "As alterações climáticas empurram para norte a distribuição geral das espécies. As que têm alguma mobilidade avançam até chegarem ao mar Mediterrâneo. Aqui é que já não podem subir mais."

A perda da biodiversidade foi transformada em meta pela União Europeia, através da iniciativa Countdown 2010, data até à qual se pretende parar a perda de espécies. "As listas vermelhas ajudam-nos a ver como as coisas mudaram. Há muita coisa que tem sido feita. Mas agora sabemos que não estamos a parar a perda da biodiversidade. Para algumas espécies, a degradação abrandou. Mas este não é o caso das espécies de água doce".

Cuttelod considera que Portugal tem uma responsabilidade internacional devido ao seu "elevado número de espécies endémicas, especialmente de peixes e moluscos". Se tivesse de escolher um hotspot para a água doce, Cuttelod escolhia o Norte do país.

"A Comissão Europeia deve ajudar Portugal a cuidar destas espécies. Na verdade, está muito interessada", comentou.

"O que podemos fazer"

Annabelle Cuttelod, coordenadora da Lista Vermelha para o Mediterrâneo, não se dá por vencida e diz que "há muitas coisas que podemos fazer". Até porque as espécies em causa "respondem muito bem a medidas de recuperação".

Primeiro, "temos de poupar água e usá-la de forma mais eficiente". Depois, "devemos incluir informação sobre as espécies no planeamento de infra-estruturas como as barragens", já que "as barragens são um problema quando não levam em conta as necessidades das espécies".

A responsável considera que o papel da UICN não termina quando a Lista Vermelha estiver completa. "Temos que trabalhar com os governos. Fazemos a ponte entre os cientistas e quem toma as decisões. É esse o nosso papel".

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