Helena Geraldes
O vale do Sabor é a única região do país onde vivem as quatro espécies de libélulas protegidas pela Directiva europeia Habitats. Mas com a barragem, Sónia Ferreira, investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, receia que estas poderão sofrer impactos consideráveis e até mesmo desaparecer.
Sónia Ferreira lamentou ao PUBLICO.PT que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da barragem “não tenha considerado o estudo dos invertebrados (...). Há populações que, se não desaparecerem, sofrerão impactos consideráveis”. Tudo porque estas são “espécies muito exigentes, que dependem de condições muito especiais”.
Actualmente, a informação sobre as 63 espécies de libélulas registadas em Portugal e os outros invertebrados é ainda “muito escassa”. “São grupos mais distantes das pessoas. Não são conhecidos. Este menor interesse dificulta a obtenção de fundos para estudar estes grupos, curiosamente os mais diversos do mundo”.
Em 2006 “foi adicionada à fauna nacional uma espécie de libélula que está em expansão do Norte de África para a Europa. Foi encontrada no Algarve. Também no ano passado foram descritas várias borboletas nocturnas. Mas seriam mais se houvesse pessoas para as estudar. Nem sabemos o que anda lá fora”.
Sónia Ferreira participou nos trabalhos da União Mundial para a Conservação, na semana passada, para delinear o esboço da Lista Vermelha dos ecossistemas de água doce do Mediterrâneo, dos quais dependem mais de 45 mil espécies de animais e plantas. “O workshop foi importante como troca de conhecimentos e até de esclarecimento de dúvidas”, contou.
Mas o “panorama [das espécies que dependem dos ecossistemas de água doce] é um bocado assustador”, admitiu.
A investigadora avança que está ainda em fase embrionária um Atlas nacional de libélulas, para colmatar lacunas. “Ainda há muito a conhecer”, assevera.
A região do Mediterrâneo, da qual Portugal faz parte, é reconhecida como um “hotspot” para a biodiversidade marinha e terrestre do planeta.
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