Lusa
A Companhia das Lezírias está disposta a alterar práticas, como o pastoreio ou a silvicultura, para promover a biodiversidade nos 200 quilómetros quadrados que ocupa, num compromisso, "Business & Biodiversity" (B&B), que assume hoje com o ICNB.
Rui Alves, o responsável pela área florestal da Companhia das Lezírias (CL), disse que o "desafio B&B" veio abrir a possibilidade de pegar em projectos que estavam pensados de forma avulsa e, de forma global, intervir sobretudo na zona da charneca, que ocupa 115 quilómetros quadrados da CL.
O compromisso com o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) vai permitir "perceber a situação actual" e ir "melhorando práticas agrícolas, silvícolas e pecuárias com impactos nas populações de aves, insectos e mamíferos", explicou.
Um dos projectos, que está já a ser desenvolvido pela equipa florestal da CL e que vai passar a ser monitorizado por duas equipas externas, visa repor a população de coelhos a um nível que já existiu no passado, "antes das doenças e de medidas de gestão que contribuíram para a sua diminuição", afirmou. O coelho, frisou, é importante na alimentação das aves de rapina e mamíferos predadores.
Outra linha de acção visa a recuperação das bandas ripícolas (vegetação que acompanha as linhas de água, formando corredores), "fundamentais para a biodiversidade, quer pela ligação entre zonas húmidas quer como refúgio de muitas espécies, como a emblemática lontra", acrescentou.
A monitorização e reforço das espécies insectívoras, nomeadamente através da colocação de caixas-ninho, é outro projecto a desenvolver no âmbito do "B&B", com o objectivo de ajudar no controlo das populações de insectos e na prevenção de pragas tanto no montado como no pinhal, em particular o bravo, que tem sido afectado por pragas e doenças como a processionária e o nemátodo do pinheiro.
Por outro lado, vai ser feito o levantamento dos mamíferos "e perceber as relações existentes entre o seu uso de recursos e as diferentes actividades desenvolvidas, particularmente a silvopastorícia", disse Rui Alves, frisando que os vários projectos se cruzam.
O compromisso vai ainda permitir dar continuidade a um projecto iniciado há três anos e alargá-lo para fora da área da CL, o Tyto-Tagus, que procura a preservação da Coruja-das-torres, nomeadamente conhecendo quais as áreas de procriação e estabelecendo relações com as zonas de abundante alimentação onde se concentram os jovens desta espécie, o estuário do Tejo.
Este projecto é liderado pelo Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora, que participa igualmente nos projectos de recuperação das bandas ripícolas e da avifauna insectívora do montado e pinhal.
Já o levantamento dos mamíferos, o chamado "atlas dos mamíferos da CL", é desenvolvido pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Rui Alves afirmou, ainda, que estes projectos são complementados por dois outros, cujo compromisso "B&B" foi assinado a semana passada com a Brisa, que se assumiu como "sponsor", em particular do EVOA, que contará com apoio técnico do World Wild Fund.
O compromisso que vai ser assumido hoje com o ICNB vigora até ao final de 2012, não implicando financiamentos mas funcionando como um "garante da qualidade científica" das intervenções, acrescentou.
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