Helena Geraldes
Mais de um século depois da criação dos primeiros parques nacionais, a biodiversidade prepara agora o seu perfil como oportunidade de negócio. Para aproveitar o momento criado pelos novos mercados ambientais, como os mercados de carbono, a presidência portuguesa da União Europeia lança o desafio Business and Biodiversity aos 27 Estados membros. Para salientar as vantagens competitivas das empresas investirem nas espécies e nos recursos genéticos e ajudar a travar a extinção.
Hoje, mais de 450 especialistas e empresários europeus reúnem-se na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para definir o estado da arte e uma plataforma europeia com linhas de orientação comuns para as empresas interessadas em investir na biodiversidade. Em cima da mesa estarão indicadores e a metodologia a utilizar para avaliar resultados.
Segundo o Instituto para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), mentor desta iniciativa de carácter voluntário, 30 empresas e organizações portuguesas já assinaram uma carta de compromisso para integrar as preocupações com a biodiversidade na sua actividade diária e elaboraram planos de acção, com uma duração entre os três e os cinco anos. “Em Maio inventariámos e contactámos 70 empresas, aquelas que achámos que tinham potencial. Apenas duas disseram não estar interessadas”, explicou João Menezes, presidente do instituto, num encontro com jornalistas na véspera do arranque da conferência, onde também participou o ministro do Ambiente Francisco Nunes Correia. “Esperávamos chegar à conferência com 15 empresas. Mas hoje temos o dobro, com mais algumas na calha”, comentou.
Não basta assinar um papel
No dia do arranque da conferência Business and Biodiversity, que termina amanhã, o ICNB estima em 500 mil euros o investimento médio anual, por empresa.
Mas para as empresas que aderiram à iniciativa – como a Brisa, Altri, Refer, Corticeira Amorim, Companhia das Lezírias, Galp, Nova Delta e Secil – não lhes basta assinar um papel. “Existem exigências a pedir a estas empresas. Têm que pôr alguma coisa na biodiversidade. Estamos ainda a trabalhar nos critérios”, lembrou João Menezes.
A iniciativa Business and Biodiversity não está isenta de “zonas cinzentas”. Enquanto uns questionam o que podem as empresas ganhar com esta aposta na biodiversidade, outros receiam que a adesão à iniciativa sirva apenas para lavar a imagem junto dos consumidores de uma empresa com “cadastro” ambiental.
Nas palavras do ministro do Ambiente Nunes Correia, as empresas que aderem à iniciativa terão um “ambiente mais amigável” para o negócio, nomeadamente junto dos consumidores e da administração. Nunes Correia referiu ainda que esta se insere numa “lógica de marketing”, facilitando e melhorando os ganhos das empresas.
Tanto o ministro do Ambiente como o presidente do ICNB garantiram ainda que só podem fazer parte deste grupo as empresas que cumprirem a legislação ambiental em todas as áreas, não apenas na biodiversidade. “Uma empresa que viole a lei geral do Ambiente não pode fazer parte” e poderá ser expulsa da parceria, disse Nunes Correia.
Durante a conferência de alto nível, além das sessões plenárias, serão realizados workshops sobre os tipos de compromissos voluntários que podem ser assumidos com as empresas, as formas de avaliação das parcerias e sua estruturação e ainda os novos mercados baseados na biodiversidade. Fazem parte do leque de oportunidades a agricultura biológica, exploração sustentável das florestas, pescas e aquacultura, sem esquecer o ecoturismo. Durante a conferência será apresentado um estudo internacional sobre as áreas onde as empresas podem investir e explorar negócios.
Apesar de ser iniciativa da presidência portuguesa da União Europeia, o Business and Biodiversity pretende manter-se nas presidências seguintes. Segundo João Menezes, a iniciativa já conta com o apoio da Eslovénia e da França e a Comissão Europeia manifesta um interesse crescente. Para o ministro Nunes Correia, esta é já “uma aposta ganha”, num cenário onde “cerca de dois terços da economia mundial está baseada nos recursos naturais”.
O Business and Biodiversity aspira a ser o contributo europeu na COP9 (conferência das partes) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, a realizar de 19 a 30 de Maio de 2008, em Bona, Alemanha. Em 2001, a União Europeia comprometeu-se a parar a perda da biodiversidade até 2010.
Empresas cuidam do lobo, de carvalhos, de aves e outras espécies
As áreas em que as empresas do Business and Biodiversity se movem são diversas. Vão das florestas, à produção de vinho e café, passando pela electromecânica, turismo, banca e geração de energia. Mas também são diversas as formas como se põem em campo. Para isso têm a ajuda de universidades e organizações ambientais.
A CME – Construção e Manutenção Electromecânica tem um plano de conservação do Lobo ibérico entre a Reserva Natural da Serra da Malcata e o rio Douro. O Banco Espírito Santo comprometeu-se a conservar a águia-imperial, a cegonha-negra e a lontra numa herdade do Parque Natural do Tejo Internacional.
A Secil surge como patrocinadora da recuperação das pradarias marinhas na Arrábida e a Sonae a preservar a avifauna das salinas do rio Sado e a aliviar as pressões à comunidade de golfinhos roazes do Sado.
A Nova Delta vai a Angola promover o Comércio justo e a Brisa aposta na observação de aves na Ponta da Erva/Salinas de Saragoça.
A Edia compromete-se com os charcos temporários de Alqueva e a Finagra a testar a produção de vinho biológico.
Os bosques de carvalhos e de medronhais terão o apoio da Quinta do Valle do Riacho e o cordão dunar em Espinho será consolidado com a ajuda da Refer.
A EDP cuida dos peixes migradores do rio Cávado e das aves do Douro Internacional e tenta estimar os impactos das alterações climáticas na biodiversidade.
Estes são só alguns dos exemplos, entre a criação de prémios para distinguir práticas e trabalhos de investigação ou ainda a contabilização e compensação das emissões poluentes.
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